domingo, 26 de agosto de 2012

Aperitivo para o dia 1 de setembro


Colaboração de Paulo Kralik Angelini

Obra que conjuga sucesso de vendas e de crítica, obtendo prêmios importantes como o Pulitzer de 2011 e o National Book Critics Circle Award, além de Los Angeles Times Book Prize, winner (Fiction, 2010), PEN/Faulkner Award, finalist (2011), Publishers Weekly’s Top 10 Best Books (2010), New York Times Best Books of the Year (2010), Time Magazine's Best Books of the Year (2010), entre muitos outros, A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan, desafia certo conservadorismo acadêmico por apresentar-se com uma embalagem pop que muitos associam à literatura comercial descartável. Primeiro preconceito. Aliás, a frequência de uma obra na lista dos mais vendidos é inversamente proporcional à credibilidade que essa obra possui frente a alguns leitores mais exigentes. Segundo preconceito.

A visita cruel do tempo traz uma série de narrativas que se entrelaçam. De saída, percebemos a habilidade da autora na composição de uma rede de vozes narrativas que chamam o leitor para dentro da obra. Paul Ricoeur afirma, no capítulo Mundo do texto e mundo do leitor, no terceiro volume da obra Tempo e Narrativa: “somente pela mediação da leitura é que a obra literária obtém a significação completa”. Egan propõe uma tal engenhosidade narrativa que o leitor assume papel de destaque. É a literatura como jogo; a proposta de uma leitura que saia da zona de conforto e traga, a todo instante, enigmas a serem decifrados: Quem narra este capítulo? Em que tempo encontramo-nos? Quem são esses personagens? O leitor, fisgado pela narrativa, como diz Barthes, levanta a cabeça e debate os rumos a serem seguidos por Jennifer Egan.
Portanto, uma leitura atenta de A visita cruel do tempo requer dois pontos-chave para a discussão: a inventividade narrativa encaminha-se para um estudo de uma linhagem de narradores propensos a uma desestabilização no leitor, trajetória que já se observa desde Cervantes e Laurence Sterne; e a utilização do tempo na história – o tempo que emoldura a narrativa. O tempo que também é personagem. Se há dúvida em afirmar quem são os protagonistas da obra, certamente podemos perceber quem é o grande antagonista: o próprio tempo.

Desta forma, A visita cruel do tempo, traz o sabor da liquidez e da fragilidade nas relações atestadas por Bauman na contemporaneidade, e já assegura um posto de destaque de Egan entre os grandes nomes da literatura do século XXI.


Prof. Dr. Paulo Kralik Angelini estará presente no painel sobre A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan, dia 1 de setembro.

Um comentário:

  1. Queridos amigos

    Confesso a vocês que li as primeiras páginas do livro "A visita cruel do tempo", de Jennifer Egan, com alguma dificuldade. Sem nada saber das personagens, me senti por vezes meio perdida, a narrativa um pouco arrastada, enfim. Mas - como dizia o meu Professor Guilhermino Cesar - se for bem escrito, a gente dá uma chance ao livro e não desiste. E aí aconteceu: de repente, o livro cresce e nos envolve de tal jeito que venho aproveitando cada meia hora livre para ler mais um pouco! O capítulo 8, por exemplo, é uma preciosidade na construção de personagens, na representação do contemporâneo, na exposição dos ardís da mídia, do fake, do "clique, clique, clique", enfim... Acho que o livro foi MUITO bem escolhido e rep-resenta muito bem a nova narrativa que desestabiliza as convenções e torna o leitor cada vez mais participante do processo de construção de significados! E estou ansiosa para ouvir a palestra do Professor Angelini no sábado!

    Aguardo-os a todos.

    abraço da Léa

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