terça-feira, 11 de setembro de 2012

Em um mundo descentrado


Contribuição de LÉA MASINA para os debates sobre as literaturas do século XXI: In: SELDEN, R. et all. La teoria literaria contemporânea.

Para alguns, o pós-modernismo indica uma mercantilização deplorável de toda a cultura e a perda da tradição e dos valores, encarnados no séc. XX de forma decisiva pelas obras modernistas; para outros, ele comporta uma liberação da ortodoxia conservadora da alta cultura e uma dispersão muito bem acolhida da criatividade em todas as artes e nos ovos meios de comunicação, abertos agora a novos grupos sociais.

Há autores que sugerem listas de notas pós-modernistas relacionadas (e opostas)  ao modernismo, dentre as quais a difusão do ego; participação do leitor – espectador; o fato de a arte converter-se em algo comunitário, opcional, anárquico. Ao mesmo tempo, a ironia se transforma em radical, um jogo que se esgota em si mesmo, a entropia do significado.  Em oposição à experimentação modernista, os pós-modernistas produzem “estruturas abertas, descontínuas, improvisadas, indeterminadas, aleatórias". Também recusam a estética  tradicional de beleza e de unidade. Fazendo coro ao que diz Susan Sontag, Hassan, por exemplo, concorda que os pós-modernistas estão “contra a interpretação”.

A experiência pós-moderna está amplamente sustentada para interromper o profundo sentido de incerteza ontológica moderna. A comoção humana até o inimaginável (poluição, holocausto, a morte do indivíduo) desemboca em pontos de referência fixos. Nem o mundo nem mesmo um indivíduo possui  ainda unidade, coerência, significado. Estão radicalmente “descentrados”.

2 comentários:

  1. Eu terminei o livro faz uns dois dias. Ainda estou deglutindo. Certamente necessita uma segunda leitura. Por um lado, entendo esse ritmo moderno: não linear, com informações pululando, tudo se desfazendo. Por outro, penso que, no meio de tudo isso, acabamos dando um sentido mais completo às nossas ações do que as velocidades partidas que nos chegam fazem supor. Quero dizer, reproduzir a aparência de um ambiente não significa reproduzir a maneira como pessoalmente o vivenciamos internamente. E como lidar com isso em literatura considerando que as descrições são carregadas de índices que ligam contexto interno e externo num jogo de significados que se complementam?

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    1. Querido Caleb

      O que sentiste está sendo partilhado por nós todos. E isso é fantástico! Sugiro ler 3 vezes o livro, como se fosse uma partitura de música: a mão direita seria o texto dito convencional (lido em primeiro lugar); a esquerda, os textos próximos ao rodapé. Depois, ler de novo, deixando que se combinem e criem novas harmonias, novas tonalidades... Sem dúvida alguma, essa leitura exige muito do leitor. Eu estou achando uma experiência extraordinária e gratificante. Parabéns por teu comentário!

      Lea

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