sábado, 27 de abril de 2013

O que é ser contemporâneo - Giorgio Agamben



Caros amigos, sugiro retomar a primeira palestra do nosso curso e, conforme sugeriu o professor Ricardo Barberena, pensar o que é o contemporâneo. Tudo pode ser controvertido, refutado, aceito plenamente ou recusado: aceitamos o desafio de percorrer novas trilhas, abrir novos caminhos, com direito a avanços e recuos. Minha sugestão é: então, vamos lá! A leitura do texto abaixo (aba do livro de Agamben) é sugestiva e estimulante! Boas leituras para todos!

Para Giorgio Agamben, o contemporâneo que se pode entrever na temporalidade do presente é sempre retorno que não cessa de se repetir, portanto nunca funda uma origeme, com isso, se aproxima da noção de poesia. Por isso, Agamben (...) recorre ao poema, de 1923, intitulado O século , do poeta Osip Mandel ´Stam, para novamente enunciar sua tese de que a poesia define-se por ser retorno. Diz-nos Agamben: “ Não apenas a época-fera tem as vértebras fraturadas, mas vek, o século recém-nascido, com um gesto impossível para quem tem o dorso quebrado, quer virar-se para trás, contemplar as próprias pegadas e, desse modo, mostra seu rosto demente.” A poesia, portanto, é sempre retorno, mas um retorno que é adiamento, retenção e não nostalgia ou busca por uma origem; é um caminhar, mas não é um simples marchar para a frente é um passo suspenso. (...)

Para Agamben, a poesia é esse movimento do olhar para trás operado no poema e, portanto, um olhar para o não-vivido no que é vivido, tal como a vida do contemporâneo. O voltar-se para trás, suspender o passo, ver o escuro na luz, entrever um limiar inapreensível entre um ainda não e um não mais e compreender a modernidade c omo imemorial e pré-histórica são algumas das fraturas, das cisões no tempo com as quais o sujeito, o poeta, tem que lidar.

Profa. Dra. Léa Masina

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